Marcel Duchamp (1887-1968)
Como a maioria dos artistas modernos, Duchamp também parte
do cubismo. Tem dois irmãos que são artistas cubistas. Na verdade o cubismo
dura muito pouco em sua vida, mais ou menos um ano.Quando faz o “Nu descendo
uma escada”-que trata de vários deslocamentos que vão se reduzindo- parece ter sido influenciado
pela técnica fotográfica que consiste na obtenção de imagens de um movimento a
intervalos regulares. A pintura é recusada no Salão dos Independentes e causa escândalo, tornando-o
célebre. É convidado a se retirar do
grupo cubista. Seria
assim o começo de sua rebelião contra a pintura visual e tátil.
Passa então a se interessar não pela forma, mas pela ideia. “Eu
queria fugir do aspecto físico da pintura, fugir da sua fisicalidade, eu queria
colocar a pintura, mais uma vez, como coisa da mente”. Leonardo da Vinci concebia
a arte como “cosa mentale”.
Duchamp abandonou a pintura propriamente dita
quando tinha 25 anos. Mas continuou “pintando” por outros 10 anos, porém numa tentativa
de substituir a “pintura-pintura” pela “pintura-idéia”. Desde o começo foi um
pintor de ideias. Não a concebia como uma arte puramente manual e visual.
Em 1917, em NY, faz
parte do grupo onde qualquer pessoa que pagasse 6 dólares poderia expor o que
quisesse.Duchamp fica incomodado com a mercantilização da Arte. Com outros publica a revista de
inspiração Dada: “The Blind Man” onde eleva à categoria de Arte, a ESCOLHA do
artista.
Roda de Bicicleta
Depois do “Nu descendo uma Escada” Duchamp se encaminha para
seus revolucionários “readymade” que são objetos já prontos, porém deslocados de seu
ambiente. (ao urinol invertido é dado o nome de “Fonte”. Nela há uma assinatura
“R Mutt”, inspirada em Mutt e Jeff,
personagens de histórias em quadradinhos. Mas também poderia ser o nome da empresa onde comprou o
urinol, a “Mott Works”).Retira o caráter puramente simbólico da Arte.O urinol quebrou e Duchamp colocou outro no lugar.Sem problemas.
Este é o tempo da desmaterialização da Arte.O objeto é transmutado para o conceito.O urinol já não é mais um objeto.É arte. Pode fazer a obra à distância. O que vale é a ideia. Então pede à irmã que compre uma pá de recolher neve e que assine por ele. Chama-a de "Antecipação do braço quebrado"
"La Mariée mise à nu par sés celebataires, même”ou “O Grande Vidro” é uma obra feita em duas placas de vidro duplo (2.65m X 1,73m) que começa
a ser feita em 1915, é deixada inacabada até 1923, quebra em 1926, é consertada
em 1931. Em NY
diz que deixou inacabada por tédio de continuá-la depois de 8 anos, mas também
deu a entender que não queria acabar com o mistério do enigma: “Na coisa
inacabada a obra fica em processo”. Duchamp deitou o vidro por cerca de 3 meses
para pegar poeira. Seu tempo se estenderia ao infinito. Ele trabalha junto com
o Tempo. O tempo se
incorpora à obra.
"La Mariée mise à nu par sés celebataires, même"
Há um livro muito bom, que recomendo com veemência - O
Castelo da Pureza, Octávio Paz- que aborda a obra.
Talvez
os dois pintores que maior influência exerceram em nosso século sejam Pablo
Picasso e Marcel Duchamp. Conforme diz Joseph Kosut “toda a arte (depois de
Duchamp) é conceitual, em sua natureza. Porque a arte só existe conceitualmente”.
Duchamp desmistifica a figura do artista. Evidentemente
um readymade, objeto industrial comum e seriado, tem no mínimo, sua autoria
compartilhada. A observação do espectador que gera o significado da obra -e que
não pode ser dimensionada pelo artista- foi “matematizada” por Duchamp. Chama a
este resultado de “coeficiente de arte”. Ele se referia ao que ficou latente na
obra (aberta) e que nós, espectadores, completamos, cada um à sua maneira. Porção
da obra que afinal participamos com o nosso significado.
Ele
tem fascínio sobre a linguagem: é o instrumento mais perfeito para produzir
significados e, também, para destruí-los. O jogo de palavras é um mecanismo pelo
em uma mesma frase exaltamos os poderes de significação da linguagem e onde se
pode imediatamente, aboli-los.
Tinha um interesse linguístico constante. L.H.O.O.Q. de
1919 é um título provocante e irônico( Elle a Chaud au coul-ela tem fogo no rabo) dado ao ícone da pintura universal onde
ele dessacraliza o sentido histórico da Monalisa. Acrescenta à
Gioconda bigodes e barbicha. Duchamp manteve durante toda a sua vida a atitude de não comentar as interpretações dadas à sua Arte. É considerado por muitos, o artista mais fascinante e desconcertante do século XX.
Angela Weingärtner Becker
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