Vincent Van Gogh (1853-1890)


A cada ano o Museu van Gogh, em Amsterdan, se inunda de 1 milhão e meio de visitantes para ver van Gogh. Ele adquiriu (para muitos e me incluo nisso)  uma proporção quase mística. A caminho de uma exposição sua, sentimo-nos em peregrinação.
Jamais esquecerei quando, no Museu D’orsay, vi uma exposição especial sobre ele. Tive de sair da sala, estava aos prantos, precisei me recuperar, pois soluçava. O espaço se tornava sufocadamente claustrofóbico para tanta emoção. A intimidade de seu quarto em Arles, seu médico Dr. Gachet, o carteiro portador das cartas de seu irmão Theo, seu autorretrato de orelha cortada em briga com Gauguin, os girassóis que fez, cheio de planos, para sua nunca realizada comunidade de artistas, o pátio da clínica onde se internava, sua última pintura em traços convulsos (Campo de Trigo com Corvos) tudo isso era  ferida exposta para quem quisesse ver. E também a beleza das noites estreladas, das Iris, dos trigais dourados.

Surpreendentemente sua vida de pintor durou muito pouco: 10 anos. Porém  de um frenesi absurdo de trabalho:1100 desenhos, quase 900 pinturas, ilustrações, cartas, muitas cartas, onde demonstrava conhecimento profundo das Artes.
Não se sabe muito sobre sua juventude, mas possuía outros quatro irmãos, sendo que Theo terá um papel importante em sua vida.
Nada indicava que ele se destacaria na pintura. Introvertido, excêntrico, conseguiu um emprego aos 16 anos, junto à sucursal que os pintores franceses mantinham em Haia. De lá vai para a mesma loja sediada em Londres e depois em Paris, que era a sede central da Goupil & Co, onde trabalhava seu irmão.

Lá começou a dar sinais de interesse religioso em suas cartas à familiares, fazendo-se pastor protestante, como seu pai. É mandado para uma pequena região mineira belga onde ganhou o apelido de “Cristo da mina de carvão” pois pregava para os pobres e desamparados. É destituído do cargo e cai em crise depresssiva.Tinha 27 anos e se sentia perdido na vida. Theo, que o sustentava economicamente, lhe sugeriu que tentasse ser artista.
 Desde sempre fez esboços, mas sentiu-se inseguro. Combinou com Theo, que enviaria seus desenhos periodicamente, em troca de seu sustento. Era preciso mantê-lo interessado em alguma coisa.

Vincent era autodidata e para se tornar um pouco mais profissional, passou uma temporada em Bruxelas. Devora livros de anatomia e perspectiva. Observa seus contemporâneos. Mas o alto custo de vida obrigou-o a voltar ao interior, à casa de seus pais. Os camponeses foram seus modelos. Mas volta para Haia depois de um desentendimento com o pai. Começa a pintar aquarelas e ao final de 1882 inicia a pintura a óleo. Animado pelas histórias contadas pelo artista Rappard, vai ao norte para pintar a vida no campo. Não é aceito pelos camponeses e torna a voltar para a casa dos pais. Nesta ocasião pinta “Os comedores de batatas”. Escreve a Theo: “que uma pintura de camponeses cheire a toucinho, fumo, batata à vapor, muito bem. Parece-me saudável que um estábulo cheire a esterco, pois que um quadro de camponeses não poderia cheirar a perfume”

O pároco do lugar proíbe os camponeses de posarem para van Gogh. Ele volta para Ambere onde faz um curso na Escola de Bellas Artes.
Ao final de 1886 chega- sem avisar!- no pequeno apartamento de Theo, em Paris,  que obriga-se a pocurar um lugar maior.
 Montmartre abre um novo mundo a van Gogh: Milliet (por quem é apaixonado) Delacroix, Manet, Monet. Encontra-se com Toulouse Lautrec que se encarrega de o apresentar à  noite de Paris e o expõe ao álcool, absinto, prostituição.
Faz 27 autorretratos, pois estes não requeriam modelos, a não ser ele próprio.
Em Paris conhece Gauguin com quem vai de muda para Arles, sul da França. Como sua saúde já estava bastante debilitada pelas noites boêmias de Paris, esperava recuperar-se no campo. Melhorou mesmo, e com ele sua pintura virou uma primavera de amarelos fulgurantes, azuis de vitrais, intensos vermelhos. Ele passa a fazer planos: quer fundar uma colônia de artistas. Aluga quatro casas para tal. E pinta muitos vasos com girassóis para decorá-las. Gauguin deveria ser o líder desta comunidade. Os dois trocam técnicas e inspirações. Mas não contavam que seus temperamentos igualmente obsessivos, iriam pegar fogo em violentas brigas. Numa dessas van Gogh corta sua própria orelha esquerda. Gauguin, furioso, se vai para sempre, para suas ilhas tropicais.

Van Gogh sofre todo o tipo de problemas: desde dores de estômago, maus dentes, até graves alucinações, depressão. Interna-se voluntariamente no sanatório de Saint-Rémy. Lá pintaria o pátio, as naturezas mortas, tudo sob observação do sanatório. Neste período algum interesse começava a surgir sobre suas pinturas. Theo conseguiu vender um único quadro “O vinhedo vermelho” que se encontra hoje no Museu Pushkin, de Moscou. Van Gogh estava fora do mercado de Arte. É recluso, estranho, um louco com seu chapéu ridículo onde instalou uma lâmpada para pintar à noite. Mas suas obras não são obras de um doente mental. Ali nosso olho encontra equilíbrio, harmonias internas, disciplina de cores e formas. Mas principalmente uma densidade humana jamais vista. Suas tensões na pintura estão absolutamente controladas. A gestualidade é vigorosa, a carga expressiva é plástica e estável.Suas pinturas possuem luz de vitral.Tem admirável senso geométrico. A proporção se junta à amabilidade das cores.


Em 1990, seguindo os conselhos de Theo e Camille Pissarro, van Gogh vai a Auvers-sur-Oise, perto de Paris. Estava sob os cuidados do Dr. Gachet. Ali produziria muito, praticamente uma obra por dia.
Theo, porém, farto de trabalhar para os outros, decide trabalhar por conta própria. Tiveram de apertar o cinto, economizar. “Minha vida também tem sido afetada desde sua raiz. Eu também não me mantenho mais firme sobre solo” diz numa carta ao irmão.
Van Gogh relata que está em depressão profunda e seus quadros expressam a dor de estar no mundo.

Em 27 de julho, dispara uma pistola em seu peito e agoniza dois dias na presença de Theo, até morrer. Os dois tinham trocado 6 mil páginas de correspondência.Um ano depois, fisicamente desgastado e mentalmente debilitado, falece Theo, vítima de uma sífilis mal tratada.
20 anos depois da morte de Van Gogh os preços de seus quadros disparam.
O nosso museu do MASP, afortunadamente, possui nada mais, nada menos do que 5 obras de Van Gogh, entre eles o famoso "O escolar"

Um comentário:

Beth disse...

Hoje fazem 160 anos do nascimento deste genio. O mundo seria diferente se ele não existisse :)